quarta-feira, março 30, 2011

Titchener e o Estruturalismo

Fig.1 - Edward Titchener
(1867-1927)
            Interessado pela psicologia wundtiana, Edward Titchener torna-se discípulo de Wundt. Surge-lhe a oportunidade de dirigir um laboratório e cria-se uma nova etapa na sua vida: a apresentação de uma nova abordagem, à qual designou de estruturalismo.
           
            Wundt procurava identificar os elementos da consciência centrando-se essencialmente na sua síntese em processos cognitivos superiores através da apercepção, enquanto que Titchener defendia que a principal tarefa da psicologia residia na decomposição da natureza das experiências consistentes elementares, isto é, na determinação da estrutura da consciência pela análise das suas partes consistentes.
            Para Titchener a experiência consciente dependente do indivíduo seria o único enfoque adequado da pesquisa psicológica, diferenciando-se do tipo de experiências estudado por cientistas de outras áreas.

            O discípulo de Wundt utilizava um método introspectivo muito semlhante ao proposto pelo seu professor no que se referia ao rigor e à repetição, bem como à procura contínua da obdiência às normas da experimentação científica. Não obstante, existia uma grande diferença na aplicação do método por Titchener e por Wundt: enquanto o primeiro lidava com os relatos subjectivos dos elementos da consciência, o segundo lidava com reacções mais objectivas e quantitativas ao estímulo externo.


quarta-feira, março 30, 2011

Wundt e o Associacionismo


Fig. 1 - Wilhelm Wundt
(1832-1920)

           
             A abordagem revolucionária de Wundt, direccionada para a Psicologia experimental, resultou numa mudança profunda na pesquisa psicológica, movendo-a do domínio filosófico da reflexão lógica para o domínio das ciências naturais e da utilização de técnicas experimentais em laboratório.
  


 
Wundt elege a consciência (referente ao conjunto dos processos e factos psíquicos de que temos conhecimento – por oposição aos que não temos acesso e que se encontram a um nível inconsciente) como objecto de estudo e a introspecção como método. Este método consistia na auto-análise da mente que se baseia na reflexão e no relato dos processos mentais.

Fig. 2 - Em 1879, Wundt e os seus colaboradores
numa pequena sala daUniversidade de Leipzing.

A obtenção de julgamentos conscientes através da introspecção era o primeiro passo para a realização de duas tarefas fundamentais:
· Primeira, a análise dos processos mentais a partir dos seus elementos básicos (sensações e sentimentos);
· Segunda, a descoberta do fundamento subjacente à síntese e organização da consciência – a descoberta de leis de apercepção.

De acordo com Wundt a apercepção corresponderia ao processo de organização dos elementos mentais no sentido da formação de uma síntese criativa, ou seja, é a reunião das partes elementares que constituem a experiência consciente e à elaboração de novas propriedades a partir da organização mental dessas partes.
Desta forma, a meta final de Wundt era a determinação das leis de conexão ou de associação que regiam a organização dos elementos constitutivos da consciência, isto é, a sua síntese em processos cognitivos superiores por meio da apercepção.


            A escola introduzida pelo investigador foi alvo de diversas críticas. Wundt não tornou a Psicologia numa Ciência autónoma, pois reconheceu que o seu objecto de estudo era a consciência, remetendo, assim, para o campo da subjectividade. Além disso, a introspecção controlada não permite que outros observadores observem e analisem os dados a serem estudados. Ao usar-se como método somente a introspecção controlada, o estudo da psicologia torna-se muito limitado: assim, não é possível estudar-se o comportamento de um indivíduo débil mental, de um animal ou de uma criança.

A partir da década de 1920, todavia, a introspecção foi abandonada, o mesmo acontecendo com a psicologia experimental proposta por Wundt: centrada na descrição e organização dos elementos da consciência, aproximava-se mais de uma ciência académica do que de uma ciência prática.



quarta-feira, março 30, 2011

As escolas de pensamento da história da Psicologia

A História da Psicologia é marcada por evoluções contínuas: diversos intelectuais e experimentadores defendem novas ideias, que se contrapõem às antigas, substituindo-as, em alguns casos, amplificando-as noutras, definindo assim o curso das escolas de pensamento.

É de notar que o desenvolvimento de cada escola ficou marcado pela relação divergente com o pensamento predominante até então e pela emergência de pontos de vista desafiadores que a estes se opunham.

Resumidamente, a Psicologia não foi definida num só momento e estagnou, houve uma constante evolução de ideias, pensamentos, até aos dias de hoje. No entanto, a Psicologia não irá ficar por aqui, até ao que chegou actualmente, isto é, o que nos estudamos hoje e toda a informação existente sobre o assunto poderá muito bem não ser as mesmas quando os nossos netos tiverem acesso a este tipo de conhecimento ou mesmo então os nossos filhos. A Psicologia como ciência que se tornou é dinâmica e está em contanste “regeneração”.



Para teres acesso a este quadro esquemático, faz o download do mesmo aqui.


Nos próximos posts poderás ver cada escola de pensamento um pouco mais aprofundada, onde estará abordado o tema "1.1. O aparecimento da psicologia como ciência". Não percas!

quarta-feira, março 30, 2011

Objecto de Estudo da Psicologia

O campo de estudo da psicologia é muito vasto – alguns dos fenómenos que aborda fazem fronteira com a biologia, outros com as ciências sociais, como a sociologia. De uma forma geral, esta ciência interessa-se por aquilo que os organismos fazem – o comportamento e aqui inclui-se a actividade mental.

O objecto de estudo da psicologia científica é o estudo do comportamento e dos processos mentais, tendo em vista a sua explicação, isto é, estabelecer relações com as suas causas.
·         COMPORTAMENTO Qualquer acto efectuado pelo organismo e que possa ser observado e registado. Sorrir, falar, pestanejar, calçar um sapato, marcar respostas num questionário são exemplos de comportamentos.

·         PROCESSO MENTAL Fenómeno interno e subjectivo, inferido a partir dos comportamentos observados, por outras palavras, experiência intena (inferida a partir do comportamento). Pode ser consciente ou inconsciente; ocorre durante toda a vida; depende de factores hereditários e socioculturais. Sensações, percepções, lembranças, emoções, sonhos, pensamentos, crenças são exemplos de processos mentais.


Todas as ciências têm por finalidade chegar a conhecimentos rigorosos e objectivos, o que lhes permite compreender, prever e controlar os factos que investigam. Também a psicologia comunga das mesmas finalidades, propondo-se:
· Descrever comportamentos e processos mentais.
· Explicar comportamentos e processos mentais, o que significa identificar as causas que os determinam.
· Prever comportamentos, o que só é possível a partir da identificação das suas causas.
· Controlar as circunstâncias em que ocorrem os comportamentos, o que exige a sua explicação.


Dada a introdução sobre o objecto de estudo da psicologia, faz agora sentido que se apresente “As escolas de pensamento da história da psicologia”. É o que poderás ver no próximo post, fica atento!

quarta-feira, março 30, 2011

A História da Psicologia


A psicologia, cientificamente falando, é uma construção cultural europeia. Surgiu e desenvolveu-se na Europa, onde se verificaram, nos finais do século XIX e na primeira metade do século XX, algumas contribuições notáveis por parte de muitas figuras da história da psicologia.
  • Na Alemanha, Wundt (1832-1920) fundou em 1879 o primeiro laboratório de psicologia experimental, possibilitando a autonomização da psicologia como ciência;
  •  Ainda na Alemanha, Ebbinghaus (1850-1909) realizou importantes estudos experimentais sobre a memória e esquecimento;
  • Na Áustria, Freud (1856-1939) atribuiu ao inconsciente um papel fundamental na origem das desordens do comportamento e propôs a psicanálise como método de tratamento;
  •  Na Rússia, Pavlov (1849-1936) fez importantes descobertas no domínio do condicionamento com aplicação ao estudo do comportamento;
  •  Na Inglaterra, Galton (1822-1911) investigou e desenvolveu o importante tema das diferenças individuais;
  •  Na França, Binet (1857-1911) elaborou uma escala de medida da actividade intelectual, cujos desenvolvimentos e ramificações posteriores, influenciaram a psicologia aplicada ao longo do século XX;
  • Na Suiça, Piaget (1890-1980) fez descobertas notáveis no domínio do desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente. 



Ebbinghaus afirmou que “A psicologia possui um longo passado, mas uma curta história”. De facto, a psicologia é uma das disciplinas académicas mais antigas, e o seu passado remota a algumas questões já reflectidas e pensadas pelos filósofos gregos na antiguidade como o problema de relação entre a mente e o corpo, o problema da consciência, o livre arbítrio e a percepção da realidade. Por sua vez, a história da psicologia é mais recente e oficialmente remota a 1879 com a criação do primeiro laboratório de psicologia experimental por Wundt na cidade de Leipzig, na Alemanha. 




No fundo, podemos distinguir dois grandes momentos da história da Psicologia:
  • Psicologia pré-científica (antes de 1879): conjunto de teorias resultantes de especulações não submetidas a testes empíricos.
  •  Psicologia como ciência (depois de 1879): conjunto de teorias submetidas a testes empíricos e formadas mediante métodos que valorizam a experimentação e a observação.

No próximo post poderás ver "As escolas de pensamento da história da Psicologia", onde estará abordado o tema "1.1. O aparecimento da psicologia como ciência". Não percas!

domingo, março 27, 2011

A Velha e a Nova Psicologia 2


Este post trata-se da continuação do anterior ("A Velha e a Nova Psicologia") onde foi aboradado o que caracteriza a Velha Psicologia.

Fig. 1 - Quadro-resumo do post anterior.



O que define a Nova Psicologia?

A nova Psicologia é marcada com a fundação do primeiro laboratório da psicologia experimental em 1879, por Wundt. Só a partir desta data é que a psicologia assume características científicas. A investigação começa a basear-se na observação, no registo sistemático de dados e na experimentação, inicialmente em laboratório e depois também em ambiente ecológico. Até então limitada às especulações dos filósofos, a psicologia emancipa-se e, adoptando um método científico, torna-se uma ciência.


 
No próximo post poderás ver com mais pormenor o aparecimento da Psicologia Moderna com o post “A História da Psicologia”.

segunda-feira, março 21, 2011

A Velha e a Nova Psicologia


O que caracteriza a Velha Psicologia?

Num momento percursor da Psicologia Moderna destacam-se quatro grandes influências da Filosofia:
·         Inatismo;
·         Positivismo;
·         Materialismo;
·         Empirismo.

Inatismo
As concepções de René Descartes (1596-1650) baseiam-se essencialmente na divisão da natureza em duas partes opostas: de um lado, a mente ou espírito, do outro lado, o corpo ou matéria. Com ela, Descartes estabelece que a mente é imaterial ou incorpórea, mas possui capacidade de pensamento e de processamento cognitivo. A mente influencia a matéria, ou seja, o corpo, numa interacção mediada pelo cérebro.
O filósofo francês considerava, por outro lado, que o Universo e a natureza humana funcionavam de forma mecanicamente determinada, isto é, de acordo com leis universais, o que fazia com que as suas ideias estivessem inscritas na doutrina mecanicista1.
Para explicar a natureza humana, Descartes desenvolveu uma teoria que distingue três tipos de ideias: as ideias adventícias (que nos chegam a partir dos sentidos), as ideias factícias (que nos chegam a partir da imaginação) e ideias inatas (com as quais nascemos e que não são, portanto, produto da experiência). A existência deste último tipo de ideias associa a teoria deste pensador a uma doutrina inatista2.

1 Doutrina Mecanicista – é uma doutrina filosófica do séc. XVII que defendia que os processos naturais seriam determinados mecanicamente e explicados por leis da física e da química.
2 Doutrina Inatista – é a corrente filosófica que dmite a existência de princípios e ideias inatas, independentes da experiência.


Positivismo
Por volta do século XIX, cerca de 200 anos após a morte de Descartes, chegava ao fim o longo período da Psicologia pré-científica e um novo espírito impregnava o pensamento filosófico europeu: tratava-se do positivismo.
Auguste Comte (1798-1857) foi o principal mentor da doutrina positivista e definiu três tipos de desenvolvimento intelectual e científico da humanidade: um primeiro seria caracterizado pela abstracção, um segur faria já um uso rudimentar da ciência (mas estaria ainda muito influenciado pela abstracção, sendo um estado intermédio) e um terceiro, a que chamou estado positivo, seria, esse sim, caracterizado pela ciência e pela procura das leis universais que regem os fenómenos.
Na sua classificação, Comte defendia que as ciências naturais já tinham atingido o último estado intelectual, ao contrário do que se sucedia com as ciências sociais. Considerava que, para haver evolução para estados mais positivos, as ciências sociais teriam de abandonar as questões metafísicas com que se ocupavam e dedicar-se ao trabalho exclusivo com factos observáveis e verificáveis.


Materialismo
No século XIX, surge na Alemanha uma doutrina que substituía Deus pela Razão ou pelo Homem e que defendia que as explicações científicas dos fenómenos seriam exclusivamente de ordem psicoquímica, sendo o pensamento um produto do cérebro. Esta doutrina foi chamada materialismo3 e negava a separação dualista mente-corpo.

3 Materialismo – é uma doutrina filosófica que afirma que nada existe excepto objectos físicos e forças que são perceptíveis e mensuráveis.


Empirismo
O emprirismo4, orientação filosófica persistente ao longo de toda a história do pensamento, defende que todo o conhecimento deriva da experiência. É, portanto, uma doutrina próxima do materialismo e do positivismo.
Um dos autores mais importantes do empirismo foi John Locke (1632-1704), filósofo que rejeitou a proposta das ideias inatas de Descartes e que defendeu que o ser humano nascia sem qualquer experiência prévia. Este pensador retomou a ideia de “tábua rasa” de Aristóteles, postulando que a mente seria lousa sem qualquer registo prévio, onde se iriam inscrever as experiências.

4 Empirismo – é uma doutrina filosófica que defende que todo o conhecimento é o resultado da experiência e que a busca do conhecimento está limitada ao empiricamente observável.



No mesmo momento histórico, anterior à Psicologia Moderna, três grandes estudos da Fisiologia estão associados à Velha Psicologia:
·         Velocidade de condução nervosa;
·         Diferença mínima perceptível;
·         Intensidade do estímulo.


Velocidade de condução nervosa
Hermann von Helmholtz forneceu a primeira medição empírica da velocidade de condução. Ao estimular o nervo motor de um sapo, medindo o tempo de resposta motora, o investigador concluiu que o estímulo nervoso percorreria 27 metros num segundo.
Além de iniciar um tema fundamental para a Psicologia experimental (os tempos de reacção), este fisiologista contribuiu para o fortalecimento da abordagem experimental das questões psicológicas.

Diferença mínima perceptível
Ernst Weber (1795-1878) estava essencialmente interessado em estudar as sensações cutâneas e musculares. Mais precisamente, o investigadormqueria determinar a distância necessária entre dois pontos para haver produção de sensações distintas.
Os estudos de Webwe introduziram a ideia de limiar, actualmente muito estudada pela Psicologia experimental e permitiram também a formulação da primeira lei quantitativa da Psicologia.

Intensidade do estímulo
Gustav Fechner (1801-1887) apresentou duas propostas para medir as sensações: a primeira enfatiza a presença ou ausência do estímulo (a questão central era: o estímulo foi ou não sentido pelo indivíduo?) e a segunda dedicava-se à avaliação da intensidade do estímulo a partir da qual este seria considerado como existente. Esta última consideração deu origem à noção de limiar absoluto de sensibilidade – ponto de sensibilidade abaixo do qual as sensações não são detectadas e acima do qual são percebidas.
Segundo a sua perspectiva, a sensação estava dependente do estímulo e uma sensação mais forte estaria correlacionada com estímulos mais fortes.


 
Não percas o próximo post ("A Velha e a Nova Psicologia 2") pois será a continuação deste, mais precisamente será abordado o que é que caracteriza a Nova Psicologia.

segunda-feira, março 21, 2011

Introdução à Psicologia



Inicio o blog com uma pequena introdução à psicologia, assunto que está integrado no tema "1. Introdução à Psicologia do Desenvolvimento".


Fig. 1 - Símbolo da Psicologia

O termo Psicologia (psyquê significa alma, sopro; logos significa estudo, tratado, ciência) aparece no final do século XVI, introduzido por Rudolph Gocleinus.
A Psicologia é o estudo científico do comportamento (tudo o que o organismo faz) e dos processos mentais (experiências subjetivas inferidas através do comportamento) em termos de organização e diversidade. A função da psicologia é construir um corpo coerente de enunciados, empiracamente fundamentadas, de forma a explicar o comportamento e a organização mental das pessoas e proporcionar previsões correctas. É uma ciência que tem por objectivo descobrir leis e regularidades entre fenómenos de modo semelhante às ciências físicas e biológicas.
A psicologia é ainda uma ciência, porque formula modelos e teorias consistentes para compreender, explicar e prever os fenómenos humanos e depois avalia, modifica, retém ou abandona tais modelos explicativos se não forem capazes de resistir às provas empíricas, à replicação de resultados e à inspecção dos especialistas, ao contrário da psicologia popular e do senso comum que apresentam um corpo de saberes praticamente imutável ao longo de gerações.


Psicologia científica e Psicologia popular
  • Podem ter alguns aspectos em comum em termos de conteúdo
  • São saberes de natureza diferente em termos de pesquisa de dados, organização do saber, previsão e controlo da acção.



No próximo post poderás ver "História da Psicologia", onde estará abordado o tema "1.1. O aparecimento da psicologia como ciência". Não percas! 

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