segunda-feira, março 21, 2011

A Velha e a Nova Psicologia


O que caracteriza a Velha Psicologia?

Num momento percursor da Psicologia Moderna destacam-se quatro grandes influências da Filosofia:
·         Inatismo;
·         Positivismo;
·         Materialismo;
·         Empirismo.

Inatismo
As concepções de René Descartes (1596-1650) baseiam-se essencialmente na divisão da natureza em duas partes opostas: de um lado, a mente ou espírito, do outro lado, o corpo ou matéria. Com ela, Descartes estabelece que a mente é imaterial ou incorpórea, mas possui capacidade de pensamento e de processamento cognitivo. A mente influencia a matéria, ou seja, o corpo, numa interacção mediada pelo cérebro.
O filósofo francês considerava, por outro lado, que o Universo e a natureza humana funcionavam de forma mecanicamente determinada, isto é, de acordo com leis universais, o que fazia com que as suas ideias estivessem inscritas na doutrina mecanicista1.
Para explicar a natureza humana, Descartes desenvolveu uma teoria que distingue três tipos de ideias: as ideias adventícias (que nos chegam a partir dos sentidos), as ideias factícias (que nos chegam a partir da imaginação) e ideias inatas (com as quais nascemos e que não são, portanto, produto da experiência). A existência deste último tipo de ideias associa a teoria deste pensador a uma doutrina inatista2.

1 Doutrina Mecanicista – é uma doutrina filosófica do séc. XVII que defendia que os processos naturais seriam determinados mecanicamente e explicados por leis da física e da química.
2 Doutrina Inatista – é a corrente filosófica que dmite a existência de princípios e ideias inatas, independentes da experiência.


Positivismo
Por volta do século XIX, cerca de 200 anos após a morte de Descartes, chegava ao fim o longo período da Psicologia pré-científica e um novo espírito impregnava o pensamento filosófico europeu: tratava-se do positivismo.
Auguste Comte (1798-1857) foi o principal mentor da doutrina positivista e definiu três tipos de desenvolvimento intelectual e científico da humanidade: um primeiro seria caracterizado pela abstracção, um segur faria já um uso rudimentar da ciência (mas estaria ainda muito influenciado pela abstracção, sendo um estado intermédio) e um terceiro, a que chamou estado positivo, seria, esse sim, caracterizado pela ciência e pela procura das leis universais que regem os fenómenos.
Na sua classificação, Comte defendia que as ciências naturais já tinham atingido o último estado intelectual, ao contrário do que se sucedia com as ciências sociais. Considerava que, para haver evolução para estados mais positivos, as ciências sociais teriam de abandonar as questões metafísicas com que se ocupavam e dedicar-se ao trabalho exclusivo com factos observáveis e verificáveis.


Materialismo
No século XIX, surge na Alemanha uma doutrina que substituía Deus pela Razão ou pelo Homem e que defendia que as explicações científicas dos fenómenos seriam exclusivamente de ordem psicoquímica, sendo o pensamento um produto do cérebro. Esta doutrina foi chamada materialismo3 e negava a separação dualista mente-corpo.

3 Materialismo – é uma doutrina filosófica que afirma que nada existe excepto objectos físicos e forças que são perceptíveis e mensuráveis.


Empirismo
O emprirismo4, orientação filosófica persistente ao longo de toda a história do pensamento, defende que todo o conhecimento deriva da experiência. É, portanto, uma doutrina próxima do materialismo e do positivismo.
Um dos autores mais importantes do empirismo foi John Locke (1632-1704), filósofo que rejeitou a proposta das ideias inatas de Descartes e que defendeu que o ser humano nascia sem qualquer experiência prévia. Este pensador retomou a ideia de “tábua rasa” de Aristóteles, postulando que a mente seria lousa sem qualquer registo prévio, onde se iriam inscrever as experiências.

4 Empirismo – é uma doutrina filosófica que defende que todo o conhecimento é o resultado da experiência e que a busca do conhecimento está limitada ao empiricamente observável.



No mesmo momento histórico, anterior à Psicologia Moderna, três grandes estudos da Fisiologia estão associados à Velha Psicologia:
·         Velocidade de condução nervosa;
·         Diferença mínima perceptível;
·         Intensidade do estímulo.


Velocidade de condução nervosa
Hermann von Helmholtz forneceu a primeira medição empírica da velocidade de condução. Ao estimular o nervo motor de um sapo, medindo o tempo de resposta motora, o investigador concluiu que o estímulo nervoso percorreria 27 metros num segundo.
Além de iniciar um tema fundamental para a Psicologia experimental (os tempos de reacção), este fisiologista contribuiu para o fortalecimento da abordagem experimental das questões psicológicas.

Diferença mínima perceptível
Ernst Weber (1795-1878) estava essencialmente interessado em estudar as sensações cutâneas e musculares. Mais precisamente, o investigadormqueria determinar a distância necessária entre dois pontos para haver produção de sensações distintas.
Os estudos de Webwe introduziram a ideia de limiar, actualmente muito estudada pela Psicologia experimental e permitiram também a formulação da primeira lei quantitativa da Psicologia.

Intensidade do estímulo
Gustav Fechner (1801-1887) apresentou duas propostas para medir as sensações: a primeira enfatiza a presença ou ausência do estímulo (a questão central era: o estímulo foi ou não sentido pelo indivíduo?) e a segunda dedicava-se à avaliação da intensidade do estímulo a partir da qual este seria considerado como existente. Esta última consideração deu origem à noção de limiar absoluto de sensibilidade – ponto de sensibilidade abaixo do qual as sensações não são detectadas e acima do qual são percebidas.
Segundo a sua perspectiva, a sensação estava dependente do estímulo e uma sensação mais forte estaria correlacionada com estímulos mais fortes.


 
Não percas o próximo post ("A Velha e a Nova Psicologia 2") pois será a continuação deste, mais precisamente será abordado o que é que caracteriza a Nova Psicologia.

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