Como se distingue a Escola de Pensamento Psicanalítico de todas as anteriores? O que representa para a Psicologia a inclusão da noção de inconsciente?
“A psicanálise distinguia-se do pensamento psicológico geral desde o seu início, tanto em relação aos objectos como no que respeitava aos métodos e objecto de estudo.
A psicanálise possui como objecto de estudo a psicopatologia – ou o comportamento animal – em parte neglicenciada pelas demais escolas de pensamento e adopta, como principal método, a observação clínica e não a experimentação controlada de laboratório. Trata ainda do incosciente, tópico praticamente ignorado pelos outros sistemas de pensamento.”
SCHULTZ, D. & SCHULTZ, S. (2005), História da Psicologia Moderna
O movimento psicanalítico mostrou-se diferente das diferentes escolas anteriores, pois não evoluiu, revolucionou, já que não deu seguimento aos métodos e aos objectos de estudo considerados até então.
Esta recente corrente introduziu a psicopatologia, o inconsciente e o método clínico.
A psicanálise não surge espontaneamente a partir do nada, as suas principais fontes de influência foram as reflexões fisiológicas a respeito dos fenómenos inconscientes e psicopatológicos e as considerações a respeito da evolução das espécies.
Fig. 1 - Jean Charcot (1825-1893) |
É no século XIX que Jean Charcot sistematiza a doença e procura distingui-la da epilepsia e que Joseph Breuer propõe um tratamento inovador para a histeria – a cura pela palavra: a associação de palavras conduzia a recordações reprimidas e liberta os pacientes dos sintomas. A esta forma de tratamento alia-se uma segunda – a hipnose (técnica de exploração do inconsciente; semelhante a um estado de funcionamento de sono parcial, a hipnose é induzida por palavras e actos; carateriza-se por alterações no estado de consciência, memória e controlo psicomotor).
Fig. 2 - Joseph Breuer (1842-1925) |
Freud dedicou-se à exploração de provas clínicas sobre resistências1 e à compreensão da sua importância para o recalcamento.
1Resistência – designa qualquer processo através do qual o indivíduo em análise evita lembrar ou falar (tornar consciente) certos assuntos ou vivências; traduz-se em silêncios ou vazios no discurso e constitui a prova de recalcamento; é directamente proporcional à importância e força dos desejos que a provocam.
Fig. 3 - Sigmund Freud (1856-1939) |
O recalcamento, um mecanismo de protecção intra-psíquica contra o sofrimento, é um conceito nuclear quando se aborda a psicanálise e corresponde à conservação fora do campo da consciência das ideias que causam ansiedade. Embora se tornem inconscientes, os conteúdos recalcados continuam a influenciar o indivíduo, manifestando-se de forma disfarçada (em sonhos, actos falhados, lapsos de linguagem).
A psicanálise entrava assim num novo campo de estudo para a psicologia: o inconsciente2. O incosciente é integrado numa teoria estrutural e dinâmica complexa, na qual Freud procura determinar as formas de organização do sujeito psicológico.
2Incosciente – referente ao conjunto de processos psíquicos que orientam o comportamento do indivíduo, mas escapam ao âmbito da consciência; segundo Freud o inconsciente é um dos três níveis do psiquiatrismo e é nele que permanecem os processos, as ideias e sentimentos que não podem ser traduzidos voluntariamente à consciência.
A teoria psicanalítica revolucionou a psicologia:
· Pela omnipresença do tema inconsciente;
· Pela afirmação de um aparelho explicativo dos fenómenos conflituais;
· Pela revolução no modo de perspectivar o sujeito psicológico (a atenção voltada para os processos e para as estruturas) e no modo de perspectivar o seu desenvolvimento (introdução da ideia de sexualidade infantil e dos conceitos de pulsão e de zonas erógenas).
Sem prejuízo de outros desenvolvimentos de carácter igualmente inovador, podemos afrimar que a introdução do inconsciente é fundamental para a psicologia, em geral, implicando uma nova formação do aparelho psíquico.
Então, Freud apresentou duas tópicas, a primeira tópica consituída pelo Consciente, Pré-consciente e Inconsciente, e na segunda tópica temos o Id, o Ego e o Superego.
Primeira Tópica:
· O consciente é apenas uma pequena parte da mente (constituído pos percepções e pensamentos);
· No inconsciente, a maior parte do aparelho psíquico, encontra-se o material institivo, não acessível à consciência (composto por fontes instintivas de energia psíquica denominadas pulsões);
· O pré-consciente pode ser considerado como uma parte do inconsciente que pode tornar-se mais facilmente consciente (formado por lembranças e experiências passadas).
Segunda Tópica:
Implícita à estrutura do aparelho psíquico está a ideia de pulsão (ou instinto), um conceito inscrito naquela que se pode considerar a teoria psicanalítica da motivação.
O princípio básico desta teoria resume-se à afirmação de que o comportamento humano é prinicpalmente motivado por razões inconscientes e orientada por pulsões. Uma pulsão designa um impulso orgânico e inconsciente que conduz o organismo em direcção a um fim, com o intuito de reduzir a tensão.
Embora se reconheçam vários tipos de pulsões, na teoria psicanalítica há um ênfase nas pulsões sexuais (também denominadas libido) e nas pulsões agressivas.
Todos os instintos ou pulsões têm quatro componentes:
· Uma fonte – excitação corporal;
· Uma finalidade – satisfação da necessidade;
· Uma força – intensidade do investimento;
· Um objecto – o meio que permite a satisfação, externo ao organismo ou o próprio corpo.
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