Como surge a Escola de Pensamento Cognitivista? Que inovações introduz?
Fig.1 - Jean Piaget (1896-1980) |
Conhecido como psicólogo do desenvolvimento infantil, Jean Piaget foi um dos mais importantes percursores da Psicologia cognitiva. Piaget, interessado pelos processos mentais, em particular pela inteligência, preferia nomear-se primeiramente como um epistemologista genético, isto é, um cientista concentrado na investigação do desenvolvimento progressivo do conhecimento humano.
No que se refere à conceptualização da origem do conhecimento, a posição deste autor aproxima-se de uma abordagem interaccionista. Assim sendo, defendia uma perspectiva segundo a qual a origem das estruturas mentais devia ser procurada nas acções que os sujeitos (especialmente crianças) direccionam para os objectos com vista a promoverem a adaptação. Dito de outra forma, as estruturas do conhecimento humano seriam construídas no sujeito como consequência da interacção com os objectos. Esta abordagem implica, portanto, o reconhecimento do sujeito activo no seu desenvolvimento.
“Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois a sua obra tem mais páginas que a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente no seu objectivo, até às vésperas da sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escritos aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos (…).
1- A inteligência, para Piaget, é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos desenvolvem-se intelectualmente a partir do exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cerca (…).
2- Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interacção entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como interaccionista. A intelegência do indivíduo, como adoptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interacção do indivíduo com o meio. Por outras palavras, quanto mais complexa for esta interacção, mais “inteligente” será o indivíduo (…)
3- «Não existe estrutura sem génese, nem génese sem estrutura», referia Piaget. Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a génese depende de uma estrutura de maturação. A sua teoria mostra-nos que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objecto de conhecimento para inserir num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo, o que implica os dois pólos da actividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora nos seus quadros todos os dados da experiência (…). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio das suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então num «equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar» (Piaget, 1982). Portanto, Piaget situa o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interacção entre o sujeito e o objecto. E essa dialéctica resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem génese, (…) e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento.”
Texto adaptado a partir de BELLO, J. (1995). A Teoria Básica de Jean Piaget
No texto foram referidos dois conceitos importantes na teoria de Piaget, assimilação e acomodação, e são eles que serão abordados seguidamente.
A assimilação e a acomodação são consideradas duas variantes invariantes fundamentais, isto é, dois mecanismos que não variam e que se mantêm em funcionamento ao longo de todo o desenvolvimento, sendo explicativos da inteligência, ou seja, da capacidade de adaptação.
Neste contexto:
· Assimilação – corresponde ao mecanismo através do qual aquilo que é experienciado pelo indivíduo é incorporado nas estruturas (ou esquemas) que o indivíduo possui;
· Acomodação – corresponde ao mecanismo através do qual o organismo se adapta aos novos dados da experiência – ou cria um novo esquema para pedir incorporar a informação nova ou organiza os esquemas anteriores no sentido de integrar a informação para dar resposta aos novos estímulos;
· Adaptação – corresponde ao ponto de equilibrio entre assimilação e acomodação e implica momentos de conflito para que o desenvolvimento ocorra. Esta situação de conflito surge sempre que o indivíduo percebe um ponto de vista diferente do seu e isso provoca a necessidade de se descentrar do seu ponto de vista inicial.
Há então uma dinâmica muito própria entre a assimilação e a acomodação quando o indivíduo se percebe qua não tem estruturas para incorporar novos estímulos se apercebe que não tem estruturas para incorporar novos estímulos há um desequilíbrio ou conflito. É a resolução desse conflito que permite o desenvolvimento da inteligência, ou seja, a procura de novas formas de equilíbrio mais estáveis e qualitativamente melhores através do mecanismo de equilibração.
A equilibração é assim um factor fundamental, na medida em que estrutura internamente o desenvolvimento da inteligência, permitindo a auto-regulação por meio da qual a inteligência se desenvolve ao adaptar-se a mudanças internas e externas.
Na procura da obtenção de um equilíbrio que nunca chega a ser permanente, pois novas formas de informação chegam constantemente, o sujeito mantém-se em desenvolvimento, isto é, em adaptação.
A noção de Piaget de inteligência como adaptação é, portanto, essencialmente vinculada a um modelo de equilibração do funcionamento inteligente. Distinguindo-se adaptação – resultado do equilíbrio entre as invariantes de assimilação e acomodação – e equilibração – resultado da integração de factores de desenvolvimento.
Os teóricos cognitivos defendem que a aprendizagem é um processo no qual ocorre a modificação interna de significados por produção intencional do sujeito. Esta modificação ocorre como resultado de uma interacção entre o meio e o sujeito activo, tal como proposta em Piaget e não como resultado de uma manipulação que o meio faz do indivíduo, como foi sugerido pelos behavioristas.
Um olhar atento revela ainda que o interaccionismo de Piaget veio mediar as dicotomias anteriormente exploradas, adoptando uma posição de charneira entre interno/externo, inato/adquirido e individual/social.
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