Face à problemática da hereditariedade e do meio, um bom exemplo da interacção de ambas as variáveis no desenvolvimento de uma criança é o documentário “O segredo de uma criança selvagem”. Este retrata a história de Genie, o pseudônimo de uma criança selvagem que passou quase todos os primeiros treze anos da sua vida trancada num quarto amarrada a uma “cama”. Ela foi vítima de um dos casos mais graves de isolamento social na história americana.
Para veres o documentário basta acederes a este link. Tem atenção que o link é só da primeira parte do filme, sendo que terás de ver os outros no seguimento deste.
Caso não queiras ver mas queiras ter um conhecimento geral desta história, basta fazeres o download do resumo.
Quando a assistente social descobriu Genie, os investigadores descobriram uma rara oportunidade de explorar a capacidade humana para a linguagem. Será que ela aprender a se comunicar numa fase tão tardia e que ela seria capaz de funcionar normalmente? Genie tornou-se a favorita entre os investigadores que foram cativados pela sua inocência e total falta de pretensão.
O estudo de casos como o de Genie pretende dar uma resposta às perguntas: Como é um ser humano criado longe da influência da cultura e da sociedade? É possível que mesmo tendo passado muitos anos como “selvagem” ele/ela se possa tornar “civilizado”?
Cada ser humano tem características próprias, características que os tornam únicos. O comportamento humano depende de múltiplos factores que interagem desde a fecundação até á morte. No entanto, para conseguirmos explicar este facto, temos que ter em conta dois aspectos essenciais: o meio e a hereditariedade.
Assim sendo, ao conjunto de características que uma pessoa recebe por hereditariedade dá-se o nome de genótipo e ao conjunto de características que um indivíduo apresente, resultado da sua hereditariedade e de influência do meio, denominamos fenótipo.
É inegável a influência da hereditariedade nas características físicas de cada indivíduo (a cor dos olhos, do cabelo, da pele, a estatura, o peso, etc.). Já não se poderá estabelecer uma relação tão íntima entre a herança genética e as componentes de índole cognitiva ou características da personalidade.
A hereditariedade desempenha um papel fundamental na constituição dos sistemas nervoso e endócrino, que assumem um papel decisivo no comportamento humano, bem como outras estruturas orgânicas. Então podemos dizer que a hereditariedade é um facto a ter em conta quando se quer explicar o modo de actuar do ser humano.
Um indivíduo é, ao longo da sua vida, muito influenciado pelo meio. Assim, o meio é constituído por elementos que intervêm no comportamento de cada indivíduo. Esta influência do meio faz-se sentir desde o momento da concepção. O meio intra-uterino, as condições psicológicas da mãe, exercem um papel importante no desenvolvimento do feto. São bem conhecidos os efeitos de uma má alimentação, da ingestão de bebidas alcoólicas ou substâncias tóxicas pela mãe.
Após o nascimento, o meio pode favorecer, ou não, as potencialidades hereditariedades recebidas. Assim, um meio equilibrado, saudável e estimulante vai permitir um desenvolvimento das predisposições genéticas no sentido de um desenvolvimento harmonioso.
Tomemos o exemplo de uma planta: se tivermos duas sementes geneticamente idênticas e as regarmos com quantidades de água e adubo diferentes, decerto obteremos duas plantas com desenvolvimentos diferentes; se, entretanto, tivermos duas sementes geneticamente distintas a as tratarmos de igual modo, podem vir a dar plantas com desenvolvimentos distintos. No primeiro caso, as variações devem-se a meio, no segundo, são devidas a factores genéticos. O mesmo acontece com o desenvolvimento humano: depende de factores o meio e da carga hereditária.
Há, no entanto, autores que defendem que o comportamento depende mais de factores hereditários e outros que defendem que depende de factores do meio.
Na minha opinião, desde muito cedo o meio e a hereditariedade interagem, sendo difícil discernir qual o papel de cada um destes factores, sobretudo na definição de uma característica da personalidade, do nível de inteligência, das competências cognitivas de uma pessoa.
Estas duas influências estão interligadas e apesar de achar que são igualmente importantes, pode haver certos casos em que uma delas se destaca mais, mas a outra está sempre presente. Por exemplo, a cor da pele das pessoas nos países africanos é mais escura que no nosso país, isso deve-se à intensidade do sol na África e face a isso a pele foi-se adaptando gradualmente, ou seja, aqui está mais presente uma característica hereditária, porque um indivíduo com pele escura não vai ter um descendente com a pele clara (a não ser que um dos progenitores tenha assim a pele), e não uma característica do meio, pois este vai influenciando gradualmente, não tem uma influência directa.
No documentário podemos ver esta interação bem presente. Por exemplo, a criança tinha dificuldades em andar, mas será que andar é uma característica que só se desenvolve se for estimulada pelo meio? É importante haver estimulação por parte do meio, uma criança que é estimulada no tempo certo desenvolve essa característica de forma mais correcta, isto é, a Genie aprendeu a andar mas sendo ela a estimular-se, após várias tentativas foi conseguindo, mas também podemos ver que tem certas dificuldades, em parte, na minha opinião, deve-se ao isolamento de mais de 10 anos da sociedade, não tendo qualquer estímulo por parte do meio. Outro exemplo é o da linguagem. Nós nascemos pré-dispostos a desenvolver tal característica/capacidade mas se não for devidamente estimulada então a característica não se vai manifestar, no fundo trata-se de uma capacidade adquirida. Genie apenas e mal vocalizava pois era estimulada para que isso assim fosse, se ela fizesse barulho era punida, e quando Susan e os outros especialistas começaram a desenvolver a fala de Genie conclui-se que havia um período crítico para a aprendizagem da primeira língua, na medida em que Genie apenas conseguia dizer palavras soltas e nunca frases gramaticalmente construídas.
“O segredo de uma criança selvagem” expõe-nos duas questões fulcrais que nos define enquanto pessoas: O que nos torna humanos? O que realmente nos distingue dos animais?
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